O texto feito pela professora Marta Kohl de Oliveira retrata de maneira muito precisa a situação dos freqüentadores da Educação de Jovens e adultos, traçando um perfil de quem realmente são estas pessoas e os problemas enfrentados por elas, bem como os motivos que os levaram a adiar os seus estudos por tanto tempo.
É de extrema importância que se possa traçar este perfil, pois se faz necessário conhecer o material humano que se terá nas mãos para se fazer um trabalho de qualidade e que principalmente possa respeitar estas características individuais, bem como a história e trajetória destes alunos jovens e adultos.
“Ele é geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles provenientes de áreas rurais empobrecidas, filho de trabalhadores rurais não qualificados e com baixo nível de instrução escolar (muito freqüentemente analfabetos), ele próprio com uma passagem curta e não sistemática pela escola e trabalhando em ocupações urbanas não qualificadas, após experiência no trabalho rural na infância e na adolescência, que busca a escola tardiamente para alfabetizar-se ou cursar algumas séries do ensino supletivo. (...) Não é também o adolescente no sentido naturalizado de pertinência a uma etapa biopsicológica da vida. Como o adulto anteriormente descrito, ele é também um excluído da escola, porém geralmente incorporado aos cursos supletivos em fases mais adiantadas da escolaridade, com maiores chances, portanto, de concluir o ensino fundamental ou mesmo o ensino médio. É bem mais ligado ao mundo urbano, envolvido em atividades de trabalho e lazer mais relacionadas com a sociedade letrada, escolarizada e urbana.”(Marta Kohl de Oliveira pag. 59 e 60)
Neste trecho a autora descreve tantos os adultos quanto os jovens que procuram a EJA para completar os seus estudos e da mesma forma em que condições ambos chegam e as principais características deles para que o professor que trabalhar com ambos possa ter uma idéia de qual a melhor forma de trabalhar com estes dois segmentos.
Muitas vezes os adultos não conseguem completar os seus estudos na época certa por diversos motivos e depois de muito tempo são obrigados a voltar em função dos filhos que necessitam de uma ajuda na hora dos estudos e estes pais não se vêem capazes de ajudá-los ou o mercado de trabalho que exige cada vez mais estudo e qualificação dos seus empregados. Já os adolescentes que recorrem a esta modalidade de ensino são aqueles que passaram por sucessivas reprovações e que se sentem desmotivados em freqüentar uma classe regular por estarem fora de idade e por cada vez mais ficar evidente que possuem dificuldades de aprendizagem e não se encaixarem mais em uma metodologia mais voltada para crianças e eles já serem adolescentes.
“O adulto está inserido no mundo do trabalho e das relações interpessoais de um modo diferente daquele da criança e do adolescente. Traz consigo uma história mais longa (e provavelmente mais complexa) de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre as outras pessoas. Com relação à inserção em situações de aprendizagem, essas peculiaridades da etapa de vida em que se encontra o adulto fazem com que ele traga consigo diferentes habilidades e dificuldades (em comparação com a criança) e, provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendizagem.” (Marta Kohl de Oliveira pag. 60 61)
Apesar de muito se falar que a criança ao entrar na escola ela já apresenta uma leitura do mundo que precisa ser respeitada, o adulto que ingressa na EJA possui uma história de vida muito maior e mais longa e já possui percepções sobre sua própria aprendizagem que as crianças não possuem.
A EJA deve ser pensada de uma forma que se respeite esta história e que tenha metodologias e material adequado para o ensino de adultos da mesma forma como os professores devem preparar-se para lidar com situações e problemas diferentes daqueles encontrados em salas de ensino regular.
“... processo de exclusão da escola regular é o fato deque a escola funciona com base em regras específicas e com uma linguagem particular que deve ser conhecida por aqueles que nela estão envolvidos.”
Este trecho serve para reforçar as falas do parágrafo anterior, pois ele nos diz como é importante uma linguagem específica para trabalhar com adultos. A volta tardia para a escola já vem muitas vezes acompanhada de uma sensação de fracasso, onde o adulto volta à estudar vários anos depois de ter abandonado a escola, depois de uma jornada de trabalho e ainda os problema e responsabilidade com sua família e emprego. Para tanto se faz necessário uma linguagem adequada e muita motivação para que este adulto diante da primeira dificuldade ou crise não abandone mais uma vez seus estudos.
“A pergunta básica que pode ser formulada a esse respeito é a seguinte: há ou não diferenças no funcionamento psicológico em geral, e no funcionamento cognitivo em particular, de sujeitos pertencentes a diferentes grupos culturais? No caso específico aqui examinado, os jovens e adultos de que nos ocupamos, enquanto sujeitos de conhecimento e aprendizagem, operam de uma forma que é universal ou que é marcada por uma pertinência cultural específica?”
Acredito que não exista qualquer diferença cognitiva, pois todos têm as mesmas condições físicas de aprender, o que pode existir são outros fatores que possam impedir a pessoa de aprender o que é ensinado, mas estes aspectos nada têm a ver com seus grupos sociais ou a uma etnia específica.
“Todos são inteligentes, todos pensamos de forma adequada, já que os mecanismos do psiquismo são universais. Paradoxalmente, o contexto, a cultura, a história, que parecem ser tão proeminentes nessa abordagem que busca romper com o etnocentrismo, seriam componentes quase que acessórios, que apenas permitem, favorece, promovem a emergência daquilo que está posto como possibilidade psicológica de todos os seres humanos.” (Oliveira, 1997, p. 52)
Segundo a autora as diferenças culturais podem apenas favorecer ou promover a aprendizagem, mas os mecanismos do psiquismo são universais e não são diferentes de uma cultura para outra.
“A escola voltada à educação de jovens e adultos, portanto, é ao mesmo tempo um local de confronto de culturas (cujo maior efeito é, muitas vezes, uma espécie de “domesticação” dos membros dos grupos pouco ou não escolarizados, no sentido de conformá-los a um padrão dominante de funcionamento intelectual) e, como qualquer situação de interação social, um local de encontro de singularidades.”
A EJA possui suas particularidades e como em qualquer modalidade de ensino vão existir os confrontos de culturas, onde sempre a minoria terá que seguir o que a maioria decidir como o certo, é um local de interação onde várias pessoas estarão convivendo por um longo período de tempo juntas e um local onde várias pessoas estarão coexistindo com as suas diferenças.
Todos estes aspectos devem ser levados em consideração para que a EJA possa se tornar um lugar onde as pessoas que a procuram possam encontrar aquilo que almejam, pois depois de uma jornada de trabalho muitas vezes dupla (casa e trabalho) o estudante de EJA busca uma resposta rápida e objetiva para seus problemas e para isso é necessário que se conheça todo o contexto deste aluno que não quer mais perder tempo e que busca na EJA a recuperação dos seus estudos, sua auto estima e talvez uma condição de vida melhor e diferente.
2 comentários:
Olá Grace:
A postagem traz evidências do tanto que pesquisaste sobre o tema EJA. E é muito rico o que colocaste.
Para qualificar ainda mais a tua postagem seria interessante que pudesses trazer situações da tua prática, da tua vivência e, a partir da teoria estudada, fazer reflexões. É importante que tragas evidências e argumentos que deem sustentação aos teus posicionamentos. Concordas com todos os aspectos trazidos pela autora, Marta Kohl de Oliveira? A realidade que conheces é mesmo assim? Em Sapiranga, o perfil dos alunos da EJA é esse que ela descreve? Fica o desafio para continuar a pensar sobre a EJA.
Abraço.
Celi
Olá, gostei do blog e já estou seguindo. Peguei esse referencial da Marta Kohl. O interessante é como ela delimita o estudo e especifica seus objetivos claramente, enfatizando que os Jovens e adultos ao qual ela se refere são aqueles que não teve escolaridade regular e NÃO os que estão se preparando para o vestibular, ou outros estudos. Recentemente fiz o fichamento do texto dela que se encontra no meu tb recente blog.
http://passosdaval.blogspot.com/
Faça uma visitinha =)
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