A história contada no filme “O Menino Selvagem” possui alguma relação com a história dos surdos, pois da mesma forma como o menino era considerado uma aberração, muitos surdos de tempos mais antigos também eram vistos desta forma, sendo classificados como intelectualmente inferiores e incapazes.
O menino Victor do filme, por ter sido abandonado ainda criança na mata aprendeu a viver no ambiente ao qual foi destinado e onde aprendeu a conviver com animais e as plantas da floresta. No caso dos surdos é de extrema importância que eles possam conviver com outros surdos para que possa adaptar-se da melhor forma possível ao seu ambiente e assim se inserir em uma cultura. O Menino Selvagem foi um resultado do mundo onde foi inserido, ou seja, do ambiente entre animais onde assimilou o modo de vida deles. Da mesma forma o surdo desde cedo deve ser estimulado e ensinado para que mais rapidamente ele possa se adaptar ao mundo em que vive.
Uma criança surda se não for estimulada a se comunicar de alguma forma ela também se sentirá só e inadequada ao ambiente que a rodeia sem poder usufruir das inúmeras coisas que foram conquistadas através dos tempos, pois antes não existiam escolas, nem uma linguagem especial e apropriada para se comunicarem. Em certa época a linguagem de sinais foi proibida por ser considerada que assim os surdos não iriam desenvolver sua voz e que usavam os sinais, pois tinham preguiça de aprender a falar.
O menino Victor se for considerado o estágio inicial teve uma grande evolução, mas perto do que ainda tinha para aprender as inúmeras conquistas que teve acabaram tendo um caráter ínfimo, o que acabou fazendo com que fosse considerado inapto a aprender. Grandes partes das conquistas do menino aconteceram a partir do momento em que ele estabelece um vínculo afetivo com as pessoas que convivem com ele.
O menino selvagem foi retirado de um ambiente que conhecia e inserido em outro totalmente diferente entrando em contato com coisas até então desconhecidas por ele.
A história dos surdos passa também por vários estágios e etapas, assim como a história do menino do filme. Até o final da Idade Média os surdos foram muito discriminados, sendo inclusive classificados pela igreja católica como pessoas que não possuíam alma imortal por não conseguirem proferir os sacramentos.
A partir da Idade Moderna que se inicia algum tipo de pesquisa a respeito deste tema inclusive a criação de algumas escolas para surdos. O preconceito continua o mesmo, onde famílias continuam a esconder seus filhos por terem vergonha da sua condição.
Esta história serve como um alerta da necessidade de ter cuidado ao se trabalhar com uma criança que tenha necessidades especiais, pois o doutor do filme em um caráter empírico foi realizando experiências com o menino, que apesar de terem conseguido algum resultado também não respeitaram uma série de etapas que para aquele menino talvez fizessem a diferença, pois ele simplesmente retirou o menino do seu mundo e apresentou outro completamente diferente sem respeitar o que o menino sabia ou conhecia da mesma forma que introduziu letras e palavras de uma forma abstrata e pouco significativa. O menino do filme acabou se tornando inadequado para o mundo onde foi inserido e sem os instintos que o possibilitavam viver na floresta, pois já estava humano demais para voltar.
Da mesma forma penso a inclusão, tão em moda hoje em dia e muitas vezes de uma forma errada sem respeitar a individualidade dos incluídos que por muitas vezes podem se ver excluídos pelos outros e também serem trabalhados de uma forma errada que não respeite a individualidade destas pessoas e quem sabe mais prejudicar do que ajudar. Penso que é muito importante que os surdos possam freqüentar uma escola especializada onde possam conviver com outros surdos e assim poderem estabelecer trocas e criarem uma comunidade onde possam conviver de uma forma harmônica.
Um comentário:
Olá Grace:
Foste muito feliz em relacionar o filme O Menino Selvagem com a história dos surdos. A postagem faz pensar sobre o tanto que já avançamos no assunto inclusão mas também no tanto que ainda é longa a caminhada que temos a percorrer. Se tiveres alguma prática, alguma vivência pessoal dentro do tema para compartilhar, só teremos a aprender.
Abraço.
Celi
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