domingo, 22 de novembro de 2009

REFLEXÃO SOBRE O TEXTO DE MARTHA KOHL DE OLIVEIRA


O texto feito pela professora Marta Kohl de Oliveira retrata de maneira muito precisa a situação dos freqüentadores da Educação de Jovens e adultos, traçando um perfil de quem realmente são estas pessoas e os problemas enfrentados por elas, bem como os motivos que os levaram a adiar os seus estudos por tanto tempo.
É de extrema importância que se possa traçar este perfil, pois se faz necessário conhecer o material humano que se terá nas mãos para se fazer um trabalho de qualidade e que principalmente possa respeitar estas características individuais, bem como a história e trajetória destes alunos jovens e adultos.
“Ele é geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles provenientes de áreas rurais empobrecidas, filho de trabalhadores rurais não qualificados e com baixo nível de instrução escolar (muito freqüentemente analfabetos), ele próprio com uma passagem curta e não sistemática pela escola e trabalhando em ocupações urbanas não qualificadas, após experiência no trabalho rural na infância e na adolescência, que busca a escola tardiamente para alfabetizar-se ou cursar algumas séries do ensino supletivo. (...) Não é também o adolescente no sentido naturalizado de pertinência a uma etapa biopsicológica da vida. Como o adulto anteriormente descrito, ele é também um excluído da escola, porém geralmente incorporado aos cursos supletivos em fases mais adiantadas da escolaridade, com maiores chances, portanto, de concluir o ensino fundamental ou mesmo o ensino médio. É bem mais ligado ao mundo urbano, envolvido em atividades de trabalho e lazer mais relacionadas com a sociedade letrada, escolarizada e urbana.”(Marta Kohl de Oliveira pag. 59 e 60)
Neste trecho a autora descreve tantos os adultos quanto os jovens que procuram a EJA para completar os seus estudos e da mesma forma em que condições ambos chegam e as principais características deles para que o professor que trabalhar com ambos possa ter uma idéia de qual a melhor forma de trabalhar com estes dois segmentos.
Muitas vezes os adultos não conseguem completar os seus estudos na época certa por diversos motivos e depois de muito tempo são obrigados a voltar em função dos filhos que necessitam de uma ajuda na hora dos estudos e estes pais não se vêem capazes de ajudá-los ou o mercado de trabalho que exige cada vez mais estudo e qualificação dos seus empregados. Já os adolescentes que recorrem a esta modalidade de ensino são aqueles que passaram por sucessivas reprovações e que se sentem desmotivados em freqüentar uma classe regular por estarem fora de idade e por cada vez mais ficar evidente que possuem dificuldades de aprendizagem e não se encaixarem mais em uma metodologia mais voltada para crianças e eles já serem adolescentes.
“O adulto está inserido no mundo do trabalho e das relações interpessoais de um modo diferente daquele da criança e do adolescente. Traz consigo uma história mais longa (e provavelmente mais complexa) de experiências, conhecimentos acumulados e reflexões sobre o mundo externo, sobre si mesmo e sobre as outras pessoas. Com relação à inserção em situações de aprendizagem, essas peculiaridades da etapa de vida em que se encontra o adulto fazem com que ele traga consigo diferentes habilidades e dificuldades (em comparação com a criança) e, provavelmente, maior capacidade de reflexão sobre o conhecimento e sobre seus próprios processos de aprendizagem.” (Marta Kohl de Oliveira pag. 60 61)
Apesar de muito se falar que a criança ao entrar na escola ela já apresenta uma leitura do mundo que precisa ser respeitada, o adulto que ingressa na EJA possui uma história de vida muito maior e mais longa e já possui percepções sobre sua própria aprendizagem que as crianças não possuem.
A EJA deve ser pensada de uma forma que se respeite esta história e que tenha metodologias e material adequado para o ensino de adultos da mesma forma como os professores devem preparar-se para lidar com situações e problemas diferentes daqueles encontrados em salas de ensino regular.
“... processo de exclusão da escola regular é o fato deque a escola funciona com base em regras específicas e com uma linguagem particular que deve ser conhecida por aqueles que nela estão envolvidos.”
Este trecho serve para reforçar as falas do parágrafo anterior, pois ele nos diz como é importante uma linguagem específica para trabalhar com adultos. A volta tardia para a escola já vem muitas vezes acompanhada de uma sensação de fracasso, onde o adulto volta à estudar vários anos depois de ter abandonado a escola, depois de uma jornada de trabalho e ainda os problema e responsabilidade com sua família e emprego. Para tanto se faz necessário uma linguagem adequada e muita motivação para que este adulto diante da primeira dificuldade ou crise não abandone mais uma vez seus estudos.
“A pergunta básica que pode ser formulada a esse respeito é a seguinte: há ou não diferenças no funcionamento psicológico em geral, e no funcionamento cognitivo em particular, de sujeitos pertencentes a diferentes grupos culturais? No caso específico aqui examinado, os jovens e adultos de que nos ocupamos, enquanto sujeitos de conhecimento e aprendizagem, operam de uma forma que é universal ou que é marcada por uma pertinência cultural específica?”
Acredito que não exista qualquer diferença cognitiva, pois todos têm as mesmas condições físicas de aprender, o que pode existir são outros fatores que possam impedir a pessoa de aprender o que é ensinado, mas estes aspectos nada têm a ver com seus grupos sociais ou a uma etnia específica.
“Todos são inteligentes, todos pensamos de forma adequada, já que os mecanismos do psiquismo são universais. Paradoxalmente, o contexto, a cultura, a história, que parecem ser tão proeminentes nessa abordagem que busca romper com o etnocentrismo, seriam componentes quase que acessórios, que apenas permitem, favorece, promovem a emergência daquilo que está posto como possibilidade psicológica de todos os seres humanos.” (Oliveira, 1997, p. 52)
Segundo a autora as diferenças culturais podem apenas favorecer ou promover a aprendizagem, mas os mecanismos do psiquismo são universais e não são diferentes de uma cultura para outra.
“A escola voltada à educação de jovens e adultos, portanto, é ao mesmo tempo um local de confronto de culturas (cujo maior efeito é, muitas vezes, uma espécie de “domesticação” dos membros dos grupos pouco ou não escolarizados, no sentido de conformá-los a um padrão dominante de funcionamento intelectual) e, como qualquer situação de interação social, um local de encontro de singularidades.”
A EJA possui suas particularidades e como em qualquer modalidade de ensino vão existir os confrontos de culturas, onde sempre a minoria terá que seguir o que a maioria decidir como o certo, é um local de interação onde várias pessoas estarão convivendo por um longo período de tempo juntas e um local onde várias pessoas estarão coexistindo com as suas diferenças.
Todos estes aspectos devem ser levados em consideração para que a EJA possa se tornar um lugar onde as pessoas que a procuram possam encontrar aquilo que almejam, pois depois de uma jornada de trabalho muitas vezes dupla (casa e trabalho) o estudante de EJA busca uma resposta rápida e objetiva para seus problemas e para isso é necessário que se conheça todo o contexto deste aluno que não quer mais perder tempo e que busca na EJA a recuperação dos seus estudos, sua auto estima e talvez uma condição de vida melhor e diferente.

FILME O MENINO SELVAGEM


A história contada no filme “O Menino Selvagem” possui alguma relação com a história dos surdos, pois da mesma forma como o menino era considerado uma aberração, muitos surdos de tempos mais antigos também eram vistos desta forma, sendo classificados como intelectualmente inferiores e incapazes.
O menino Victor do filme, por ter sido abandonado ainda criança na mata aprendeu a viver no ambiente ao qual foi destinado e onde aprendeu a conviver com animais e as plantas da floresta. No caso dos surdos é de extrema importância que eles possam conviver com outros surdos para que possa adaptar-se da melhor forma possível ao seu ambiente e assim se inserir em uma cultura. O Menino Selvagem foi um resultado do mundo onde foi inserido, ou seja, do ambiente entre animais onde assimilou o modo de vida deles. Da mesma forma o surdo desde cedo deve ser estimulado e ensinado para que mais rapidamente ele possa se adaptar ao mundo em que vive.
Uma criança surda se não for estimulada a se comunicar de alguma forma ela também se sentirá só e inadequada ao ambiente que a rodeia sem poder usufruir das inúmeras coisas que foram conquistadas através dos tempos, pois antes não existiam escolas, nem uma linguagem especial e apropriada para se comunicarem. Em certa época a linguagem de sinais foi proibida por ser considerada que assim os surdos não iriam desenvolver sua voz e que usavam os sinais, pois tinham preguiça de aprender a falar.
O menino Victor se for considerado o estágio inicial teve uma grande evolução, mas perto do que ainda tinha para aprender as inúmeras conquistas que teve acabaram tendo um caráter ínfimo, o que acabou fazendo com que fosse considerado inapto a aprender. Grandes partes das conquistas do menino aconteceram a partir do momento em que ele estabelece um vínculo afetivo com as pessoas que convivem com ele.
O menino selvagem foi retirado de um ambiente que conhecia e inserido em outro totalmente diferente entrando em contato com coisas até então desconhecidas por ele.
A história dos surdos passa também por vários estágios e etapas, assim como a história do menino do filme. Até o final da Idade Média os surdos foram muito discriminados, sendo inclusive classificados pela igreja católica como pessoas que não possuíam alma imortal por não conseguirem proferir os sacramentos.
A partir da Idade Moderna que se inicia algum tipo de pesquisa a respeito deste tema inclusive a criação de algumas escolas para surdos. O preconceito continua o mesmo, onde famílias continuam a esconder seus filhos por terem vergonha da sua condição.
Esta história serve como um alerta da necessidade de ter cuidado ao se trabalhar com uma criança que tenha necessidades especiais, pois o doutor do filme em um caráter empírico foi realizando experiências com o menino, que apesar de terem conseguido algum resultado também não respeitaram uma série de etapas que para aquele menino talvez fizessem a diferença, pois ele simplesmente retirou o menino do seu mundo e apresentou outro completamente diferente sem respeitar o que o menino sabia ou conhecia da mesma forma que introduziu letras e palavras de uma forma abstrata e pouco significativa. O menino do filme acabou se tornando inadequado para o mundo onde foi inserido e sem os instintos que o possibilitavam viver na floresta, pois já estava humano demais para voltar.
Da mesma forma penso a inclusão, tão em moda hoje em dia e muitas vezes de uma forma errada sem respeitar a individualidade dos incluídos que por muitas vezes podem se ver excluídos pelos outros e também serem trabalhados de uma forma errada que não respeite a individualidade destas pessoas e quem sabe mais prejudicar do que ajudar. Penso que é muito importante que os surdos possam freqüentar uma escola especializada onde possam conviver com outros surdos e assim poderem estabelecer trocas e criarem uma comunidade onde possam conviver de uma forma harmônica.

EDUCAÇÃO DE SURDOS


“Se não tivéssemos voz, nem língua, mas apesar disso desejássemos manifestar coisas uns para os outros, não deveríamos, como as pessoas que hoje são mudas, nos empenhar em indicar o significado pelas mãos, cabeça e outras partes do corpo?”
(Filósofo Sócrates)
A luta pela inclusão educacional é questionada por muitos surdos devido a estes permanecerem sob o poder de professores ouvintes, dentre os quais, muitos não possuem o domínio da Língua de Sinais. Surge então uma exclusão no que se refere à efetiva participação e autonomia do aluno surdo em aula, mascarada pelo conceito de inclusão (MOURA 2000).
O ouvinte não tem uma dimensão do mundo e da cultura do surdo, não sabendo muitas vezes de que forma se processa o aprendizado destas pessoas e também sem entender que muitas vezes o que se chama de inclusão hoje em dia pode acabar virando uma exclusão, pois o aluno está inserido no mundo dos ouvintes, sem muitas vezes ter uma compreensão do que se passa ao seu redor e sem ter um conhecimento da Língua Portuguesa, da sua estrutura e também por vezes sendo dono de um vocabulário tão reduzido que é incapaz de escrever um simples bilhete.
Acredito que é de extrema importância que as escolas que recebem os surdos tenham a preocupação de darem toda a estrutura para que eles necessitem para realmente aprenderem, respeitar a língua de sinais como sua primeira língua e o estudo da Língua Portuguesa como seu segundo idioma. O estudo da Língua Portuguesa como forma de acesso de qualidade aos conteúdos curriculares, leitura e escrita, sem depender da oralidade.
Além disso, é muito importante que a aula seja ministrada por um professor surdo, pois este além de servir como um modelo de adulto surdo tem também um conhecimento da cultura surda, maior intimidade com a língua de sinais criando assim um ambiente propício para a aprendizagem, pois assim os alunos terão uma intimidade e um vínculo maior com o professor, ainda mais que muitos alunos surdos possuem pais ouvintes que não possuem uma boa comunicação com os filhos devido à barreira da linguagem.
Uma mudança já parece se desenhar com a inclusão da Língua de Sinais nos cursos de licenciatura, onde os futuros professores têm um conhecimento maior da cultura surda, dos processos de aprendizagem do aluno surdo e conhecimentos elementares da língua o que pelo menos dá uma visão diferente ao professor na hora de ensinar o aluno e uma compreensão do seu mundo e modo de aprender.

TRABALHO DE CAMPO


OS ALUNOS DA EJA

Componentes: Grace Kunst, Magali Capeletti, Rozane Pastório e Susana da Silva.

METODOLOGIA: Para a realização desta pesquisa foram feitos questionários abordando vários aspectos da vida dos estudantes entrevistados. A entrevista foi feita pessoalmente, na própria escola onde os estudantes tem suas aulas Foram abordadas questões sócio demográficas, sócio-culturais e sócio-cognitivas.


DISCUSSÃO: Dos alunos entrevistados a média de idade é de 35 a 45 anos, a maioria parou de estudar para começar a trabalhar e boa parte veio de outras cidades para Sapiranga em busca de emprego. Apenas dois dos entrevistados são produtos excluídos das escolas de Sapiranga, ou seja, nasceram e se criaram aqui na cidade. A grande maioria iniciou seus estudos quando criança, mas devido ao fato de terem que trabalhar, abandonaram os estudos retomando-os somente depois de adultos, graças ao incentivo da família, mas principalmente em função da exigência do mercado de trabalho.

CONCLUSÃO: Mediante a pesquisa feita foi possível perceber que os relatos de vida dos estudantes, as dificuldades apresentadas e as mudanças ocorridas a partir do momento em que voltaram a estudar, assemelham-se com o perfil descritos por Martha Kohl em seu texto “ Jovens e Adultos como sujeitos do conhecimento e da aprendizagem”: “Ele é geralmente o migrante que chega às grandes metrópoles provenientes de áreas rurais empobrecidas, filho de trabalhadores rurais não qualificados e com baixo nível de instrução escolar (muito freqüentemente analfabetos), ele próprio com uma passagem curta e não sistemática pela escola e trabalhando em ocupações urbanas não qualificadas, após experiência no trabalho rural na infância e na adolescência, que busca a escola tardiamente para alfabetizar-se ou cursar algumas séries do ensino supletivo.( Martha Kohl). A realidade que encontramos é semelhante com a descrita pela autora, os adultos abandonaram os estudos quando criança retomando tardiamente por alguma imposição da vida.

BIBLIOGRAFIA:
OLIVEIRA, Marta Kohl de. Jovens e adultos como sujeitos de conhecimento e aprendizagem. Revista Brasileira de Educação, Set./Out./Nove./Dez. 1999, n. 12, p. 59-73.

TEMAS GERADORES


Assim como Frei Britto em seu texto Paulo Freire: a leitura do mundo, diz: “ Ivo aprendeu com Paulo que, mesmo sem ainda saber ler, ele não é uma pessoa ignorante. Antes de aprender as letras, Ivo sabia erguer uma casa, tijolo a tijolo. O médico, o advogado ou o dentista, com todo o seu estudo, não era capaz de construir como Ivo. Paulo Freire ensinou a Ivo que não existe ninguém mais culto do que o outro, existem culturas paralelas, distintas, que se complementam na vida social. Ivo viu a uva e Paulo Freire mostrou-lhe os cachos, a parreira, a plantação inteira. Ensinou a Ivo que a leitura de um texto é tanto melhor compreendida quanto mais se insere o texto no contexto que Ivo extrai o pretexto para agir. No início, meio e fim do aprendizado é a práxis de Ivo que importa. Práxis-teoria-práxis, num processo indutivo que torna o educando sujeito histórico.”
No momento que a aprendizagem torna-se algo significativo para o aluno ele com certeza irá aprender com mais facilidade, pois poderá relacionar o que aprende com a sua realidade e consequentemente saber como encaixar este novo aprendizado na sua vida. Irá criar uma relação entre o concreto e o abstrato e o aluno conseguirá entender e aprender.
No caso do adulto, mais ainda se faz necessário uma aprendizagem voltada para a realidade deste trabalhador e principalmente que estabeleça uma relação entre a sua vida e o objeto de estudo. O adulto que está procurando aprender depois de muito tempo tem algum objetivo em mente, algo que procura concretizar com a ajuda do seu estudo e portanto o ensino deve ser mais significativo ainda para estimular este estudante a seguir em frente sem desistir e principalmente sabendo que o que está estudando tem relação com ele e com sua vida e que futuramente poderá aplicar na prática o que estudou.