domingo, 6 de junho de 2010

Semana oito


Esta semana, apesar de curta, logo na segunda-feira apresentou um situação que me deixou bem triste e abalada. Logo que cheguei a escola, depois de bater meu ponto, duas alunas vieram ao meu encontro, uma delas visivelmente triste e a outra com muita pena da colega. Minha aluna chegou até mim dizendo: "Prof., aconteceu uma tragédia com a minha família." Eu  a princípio achei que ela estava brincado, mas depois reparei os sinais de lágrimas do rosto dela e perguntei o que havia acontecido. Ela disse que seus pais haviam se separado e que o pai havia saido de casa.Sua mãe lhe falou que para ela o pai não voltaria mais. Neste momento ele começou a chorar novamente, então de uma forma muito delicada conversei com ela, dando-lhe a certeza que mesmo separados ambos continuariam a ser seu pai e sua mãe e que mesmo que o pai não voltasse mais para a mãe ele sempre voltaria para as filhas, pois ele havia deixado de ser marido mas continuava a ser pai. Abracei ela e continuei mais algum tempo consolando ela. Não sei se o que falei para ela trouxe algum alivio, mas durante a aula coloquei-a sentada na minha frente e notei que ela estava muito melhor.
Isto me fez questionar do papel do professor hoje em dia, pois ouve-se muito, principalmente na sala do professores, em momentos de frustração, que "estamos aqui para ensinar", "educação se dá em casa", "se tem problemas procure um médico" e outras coisas do tipo. Não consigo ser assim, não por não concordar com algumas, mas porque sou humana e não conseguiria deixar uma criança ou uma pessoa que viesse até mim, falando de um problema, sem pelo menos escutá-la. Fico pensando se estas pessoas que muitas vezes falam isso realmente pensam isso, ou em momentos de frustração, falam isso da boca para fora. Trabalhamos com seres humanos, estamos sujeitos a passarmos por momentos frustrantes, pois nem sempre as pessoas correspondem a nossas idéias com o entusiasmo ou com as respostas que esperamos, pois as pessoas são imprevisíveis, nem sempre reagem da forma que esperamos e é isso que nos diferencia das máquinas.
Segundo Gadotti (1998), "faz-se mister que o professor se assuma enquanto um profissional do humano, social e político, tomando partido e não sendo omisso, neutro, mas sim definindo para si de qual lado está, pois se apoiando nos ideais freireanos, ou se está a favor dos oprimidos ou contra eles. Posicionando-se então este profissional não mais neutro, pode ascender à sociedade usando a educação como instrumento de luta, levando a população a uma consciência crítica que supere o senso comum, todavia não o desconsiderando".
Na minha concepção, penso que estamos na vida destas crianças, não somente para ensinar os conteúdos, mas sim para orientar, para dar exemplos, pois deve ser frustrante passar pela vida de um aluno sem deixar pelo menos uma pequena marca ou lembrança.
“O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca." (FREIRE, 1996, p.73) 
Acredito que respeito se conquista e não se impõe, pois muitas vezes se ouve comentários a respeito de desrespeito por parte dos alunos, mas penso que isso se deve a muitas vezes a posturas autoritárias, a muitas vezes uma postura de donos da verdade que incomoda quem é o foco dela. Tratando com seres humanos estamos diante da lei da " ação e reação" e também, como já comentei do fato de sermos imprevisíveis e sujeitos a dias ruins.
“O professor não apenas transmite uma informação ou faz perguntas, mas também ouve os alunos. Deve dar-lhes atenção e cuidar para que aprendam a expressar-se, a expor opiniões e dar respostas. O trabalho docente nunca é unidirecional. As respostas e as opiniões dos alunos mostram como eles estão reagindo à atuação do professor, às dificuldades que encontram na assimilação dos conhecimentos. Servem também para diagnosticar as causas que dão origem a essas dificuldades. (1994, p.250) 
Para finalizar um pensamento de Freire, que reflete um pouco do meu jeito de ser e tratar com os alunos, sou exigente, mas procuro ter uma postura próxima dos alunos, uso um pouco do carisma que acredito possuir para conquistá-los e de alguma forma realizar meu papel de professor. 
“... o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma ‘cantiga de ninar’. Seus alunos cansam não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.” (FREIRE, 1996, p.96)
Referências bibliográficas:
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
Gadotti, Moacir (1998): Pedagogia da práxis, 2.ª ed., São Paulo, Cortez.
LIBÂNEO, J. C.. Didática. São Paulo: Cortez, 1994

Um comentário:

Simone Bicca Charczuk disse...

Oi Grace!! As referências teóricas auxiliam a pensar sobre as reflexões que trazes nessa postagem. Abração!!