Marin se apresenta como um professor dedicado que, entretanto, esbarra na resistência à cultura escolar por parte de seus alunos, bem como nos conflitos presentes em uma turma composta, em sua maioria, por alunos oriundos de famílias imigrantes. Esses conflitos e resistências aparecem, continuamente, na sala de aula, envolvendo Marin e seus alunos e, muitas vezes, os próprios alunos entre si. Representação de racismo disputa entre identidades nacionais e preconceito de classe são comuns nesse espaço, e acontecem em todas as instâncias da escola. . Segundo Marilene Leal o negro na maioria das escolas tem baixa auto-estima por ser discriminado e que o índice de evasão entre eles é bastante grande.
A cena escolhida foi quando o professor Marin perde a cabeça e insulta duas alunas chamando-as de vagabundas. Esse incidente termina por gerar uma grande confusão quando um aluno negro se revolta e sem querer acerta a mochila no supercílio de uma colega, fazendo o seu rosto ficar ensangüentado, e termina saindo da sala sem a permissão do professor. Tal incidente vai parar
Na cena, o professor ofende claramente duas alunas, provoca um tumulto em aula, cria-se uma confusão e o aluno que começa tudo, sai da sala de aula. Resultado disto tudo: o aluno vai a julgamento, a mãe do aluno não consegue falar, o professor que ofende tem direito a permanecer na reunião intimidando o aluno, vota-se a expulsão do aluno sem a presença de sua mãe e dele mesmo.
Esta cena mostra com clareza o que muitas vezes pode acabar acontecendo nas salas de aula, principalmente com os professores que lidam com alunos um pouco maiores, a partir da 4ª série já é possível notar nos alunos esta falta de cooperação e muitas vezes falta de respeito com o professor e qualquer outra figura de autoridade. Estes embates acabam gerando conflitos e muitas vezes o professor por estar sobrecarregado acaba perdendo a cabeça e escolhendo palavras ásperas para se referir a determinados alunos.
O filme retrata também os conflitos próprios da adolescência que concorrem com conflitos de identidade, em confronto com uma tradição educacional presa a pressupostos disciplinares que não dão conta das contradições vivenciadas pelas inúmeras identidades, que não se somam, ao contrário, vive um conflito sem fim.
Os alunos do filme estão à maioria deles, por ser uma turma de 7ª série, entre os 12 e os 15 anos, estando então no estágio das operações formais, estágio este que tem como algumas características:
- Reflexão existencial (Quem sou eu? O que eu quero da minha vida?).
- Crítica dos valores morais e sociais.
- Moral própria baseada na moral do grupo de amigos.
- Experiência de coisas novas, estimuladas pelo grupo de amigos.
De uns anos pra cá, as novas teorias pedagógicas apontam que o ensino deve ser mais “humano”, ou seja, que o professor deve procurar compreender e estimular os seus alunos, facilitando o processo da aprendizagem, além de respeitar e lidar com as diferenças intelectuais, étnicas, culturais e socais de cada aluno.
Educar moralmente não é segundo Piaget, apenas um ato de implantar valores na criança, mas também, e principalmente, um ato de ajudar a compreender esses valores, tomando consciência deles. Para tanto, é necessário perceber como se dá o respeito às regras e aos valores que norteiam a vida da criança.